É muito comum encontrar pelas ruas pais caminhando com seus filhos, e é comum também, observar que os pais caminham consultando o celular, enquanto os filhos se distraem com o multicolorido das vitrines comerciais.
Uma professora de ciências em sala de aula, questiona um aluno: “Que invenção você gostaria que nunca tivesse sido criada? ”
O aluno, nem pisca os olhos e imediatamente em tom bravio responde “Meus pais ficam direto olhando o celular, até parece que eu nem existo, odeio celular, queria que nunca tivesse sido inventado”.
A reação sincera e imediata do aluno, desencadeou uma série de comentários entre os amiguinhos de sala, e a professora ficou observando os comentários: "Se eu tivesse que te contar de qual invenção eu não gosto, diria que não gosto do celular. Eu não gosto do celular porque meus pais ficam no celular todos os dias. O celular às vezes é um hábito muito ruim. Eu odeio o celular da minha mãe e gostaria que ela nunca tivesse um. Essa é uma invenção de que eu não gosto".
A pequena historinha acima não está apenas para ilustrar esta matéria, aconteceu em um colégio no estado de Lousiana, nos EUA, e foi publicado pela revista Crescer.
Estudos realizado em 2015, por uma empresa de grande porte em tecnologia de segurança, indicam que 42% das crianças com idade entre 8 e 13 anos, se sentiam na época trocadas pelo celular de seus pais.
Outros relevantes foram apontados nesta pesquisa, sendo 54% das crianças reclamaram da frequência com que seus pais consultam o celular, especialmente quando estão conversando, já 32% tiveram o sentimento do desprezo pela falta de concentração no diálogo.
Você que tem filho, já percebeu isso?
Se a sua resposta for sim, entenda a consequência sobre o desenvolvimento dos filhos!
O desenvolvimento infantil é feito por etapas, todas elas marcadas por alguma coisa, onde cada criança possui suas peculiaridades. Ressaltando que algo se destaca em comum, em todas elas: a necessidade de referência e segurança.
Bom, você pode agora perguntar: “Mas, o que isto significa exatamente?”
Principais teóricos de aprendizagem, apontaram a relação mãe-bebê como um fator-chave para o sucesso do bom desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças em seus primeiros meses e anos de vida.
Este período vai de 0 aos 5 anos, que constitui uma fase crucial para esse desenvolvimento, lembrando que não se trata do desenvolvimento motor e cognitivo, apenas, mas do emocional.
Referência e segurança, como dito antes, dependem do tipo de relação desenvolvida entre a criança e seus pais,
quanto mais segura afetivamente a criança se sente, protegida, amada e cuidada, melhor se torna o aparato psíquico dela diante do mundo.
Para se desenvolver a criança se espelha em referências, e as maiores referências dos filhos, são sem dúvida nenhuma, os pais.
É com base no comportamento dos pais que a criança constrói sua ideia de mundo, especialmente de relacionamentos.
A autoimagem da criança, isto é, a maneira como ela se enxerga, também é reflexo da maneira como os seus pais lhe tratam, esta falta de segurança e referência na vida das crianças na geração atual, tem produzido uma geração emocionalmente vulnerável, carente, insegura e ansiosa.
Crianças de apenas 7, 10, 11 anos (período compatível com a evolução da internet) estão cada vez mais externando problemas de ordem afetiva associados à falta de atenção dos pais, e isso também está relacionado à disciplina.
Essa é a geração que nos últimos anos tem apresentado maiores índices de psicopatologias, suicídio, automutilação, depressão e "rebeldias".
Não é só a falta de referência dos pais, mas a substituição dela por outra qualquer, literalmente, já que diante da ausência da família, a criança busca se espelhar no que o mundo lhe oferece de forma fácil e rápida.
Daí pode vir a pergunta: O que fazer?
Dedicação maior por parte de pais e mães ao momento mais esperado e crucial na vida dos filhos, são imprescindíveis.
Esta dedicação tem que ser no período em que a personalidade se forma na criança e as primeiras habilidades sociais estão para serem desenvolvidas.
Com segurança, podemos afirmar que esta fase vai dos 0 aos 5 anos, sendo esse um período crítico, mas que vai se consolidar até os 10 ou 12 anos.
Outro alerta vaia para fase da adolescência, já no início da puberdade (11/12 em diante), onde geralmente se inicia uma inversão, os filhos querem se ver mais independentes dos pais.
Eles querem se provar diante do mundo e é nessa fase que começam a "trocar" os pais pelos amigos, um sério risco, onde os pais devem redobrar a atenção, lembrando que isso é natural e necessário.
Você vai notar que será nessa fase da adolescência que seus filhos colocarão à prova tudo aquilo que ele recebeu na infância, ressaltando que aqueles que tiverem boa referência e segurança, dificilmente deixarão para trás os conselhos dos seus pais, mas pelo contrário, vão utilizá-los para encarar a vida.
Este bom vínculo parental construído entre os primeiros 10/12 anos de convivência e relação, servirá de âncora para toda a juventude.
Esta é a maior problemática dos pais modernos, que parte justamente desse ponto, sendo esse princípio de desenvolvimento relacional, ignorado ou rompido em determinado momento da vida, muitas vezes, pelo celular.
São pais ausentes durante a fase crucial do desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor, que de repente querem se tornar presentes de "supetão" mais na frente, na adolescência, encontrando rejeição até justificada, por parte dos filhos.
Conversar, participar das atividades conjuntas, ouvir, apreciar dúvidas, experiências, valorizando erros e acertos, assim você acompanha melhor o dia a dia dos seus filhos.
É preciso lançar sobre os filhos um olhar de afirmação, e o olhar para seu filho, para que ele saiba que você os aprova, confia e acredita em suas capacidades, mesmo quando eles erram.
Muitos pais e mães estão tão entretidos no mundo virtual que não percebem o quanto isso é importante, deixando o tempo passar, enquanto seus filhos perdem tais referências.
A falta da presença paterna/materna gera um vácuo que, aparentemente, pode ser "preenchido" com entretenimento digital.
Mas o que é um entretenimento digital? É quando os pais deixam seus filhos abandonados na frente de uma TV, do celular e outras parafernálias, horas e mais horas...), mas que vai estourar lá na frente na forma de sintomas de insegurança, ansiedade, revolta, tristeza, falta de motivação, etc.
Assim, pais e mães precisam voltar a ter contato com os filhos sem a presença da tecnologia como intermediária. Visitar praças, realizar atividades ao ar livre. Sair com outras crianças e promover interações. Tudo isso exige que você, pai e mãe, largue mais o celular.
Abra mão um pouco mais de si para investir no futuro da saúde mental dos seus filhos. Acredite, se não fizer isso em tempo hábil, a conta dessa dívida um dia irá chegar.