“Era uma verdadeira missionária, com todo o peso que a palavra carrega. Missionária de verdade.” Assim, brevemente, descreveu Irmã Judite, freira que acompanhou parte da trajetória de vida da Irmã Guilhermina, tão conhecida e reconhecida em Paranapanema, falecida no último dia 03.
Anna Offermanns, natural da Alemanha, nascida em 10 de Julho de 1932, deixou seu país de origem em 1956, deixando a congregação na Europa a pedido do Papa, onde as freiras acompanhariam os imigrantes, principalmente os austríacos e suíços que deixavam o continente em razão da marca do medo que assolava a Europa por causa da Segunda Guerra Mundial, em busca de uma nova vida no Brasil.
Aqui, em terras brasileiras, Anna passou a ser Irmã Guilhermina. Sua chegada em 1956 a levou para realizar seus trabalhos voluntários entre algumas cidades de São Paulo e Paraná. Enfermeira por profissão, irmã Guilhermina teve sua primeira ação no Brasil como professora. Não da saúde, mas do aprendizado, da educação. Irmã Guilhermina deixou sua primeira marca no Brasil dando aulas para crianças no internato de Guarapuava, Paraná. Enquanto os pais trabalhavam fora nas lavouras, e buscavam seus filhos no internato apenas aos finais de semana, Irmã Guilhermina dedicou com maestria o ensino em sala de aula como também ensinava as crianças em boas condutas, como afazeres domésticos. Era a educação para a vida.
Em 1979 conheceu Paranapanema, após ter se dedicado também ao próximo em Itapetininga. Desde então foram 38 anos dedicados aos mais necessitados. “Ela adotou Paranapanema”, contou a Irmã Judite.
No município de Paranapanema, irmã Guilhermina trabalhou como enfermeira no hospital da cidade por muitos anos. Mas não se limitava apenas ao hospital. Irmã Guilhermina sempre tinha uma “dupla jornada”. Durante o dia trabalhava e à noite visitava famílias carentes, seja para dar um apoio à saúde, à questões financeiras ou para compartilhar um momento de oração.
Batalhadora em prol dos pobres, Irmão Guilhermina foi além. Fez da sua ação, que muitas famílias tivessem condições de ter um lugar digno para morar.
Certa vez, convidou o Padre Nedir para apoiá-la na empreitada de construir residências com valores em aluguéis acessíveis à famílias carentes. “Ele foi uma grande colaborador para auxiliar na legalização dos terrenos”, disse Irmã Judite. Ela contou ainda que, como as Irmãs têm férias de três meses a cada três anos, Irmã Guilhermina usava o tempo livre e visitava sua família na Alemanha. E mais do que a família, ela também visitava igrejas e hospitais divulgando Paranapanema e pedindo donativos.
Com essas visitas, irmã Guilhermina, levantou 115 residências em Paranapanema, arrecadou medicamentos (enquanto era permitido pela alfândega), leite, roupas, cobertores, tudo voltado para atender aos mais necessitados, através da Associação de Amigos da Vila São José, a SOAMPARO.
Sobre as “casinhas da irmã”, como é referência em Paranapanema, conta a Irmã Judite que o objetivo delas era proporcionar às famílias carentes a economia com aluguéis mais caros, para que, com o que economizassem, pudessem futuramente comprar o próprio terreno e construir a casa dos sonhos. Muitas famílias alcançaram esse objetivo proposto pela Irmã Guilhermina, mas muitas tiveram outras prioridades, ou não conseguiram crescer e sair da pobreza, permanecendo nas residências e muitas vezes de forma inadimplente. E as “casinhas” ficaram degradadas com o tempo. “Ela sofria muita com isso”, desabafou Irmã Judite sobre a tristeza da Irmã em ver as situação das casas e das pessoas. Por outro lado, Irmã Guilhermina enchia-se em felicidade ao ver famílias gratas e realizadas em terem sua própria casa.
“Quanto mais ela servia, mais ela queria servir”, continuou a Irmã.
Eunice de Moraes Arruda, que conviveu por sete anos com Irmã Guilhermina, como voluntária, coordenadora e presidente do SOAMPARO, disse que além de considerar a Irmã como segunda mãe, Guilhermina estava presente em todos os momentos difíceis de sua vida, e que ainda aprendeu com ela o valor de amar o próximo. “Ela foi o melhor exemplo de pessoa em amor, carinho e dedicação”, completou Eunice.
Irmã Guilhermina teve câncer de intestino diagnosticado em 2013. Desde então passou a fazer tratamentos na cidade de Barretos, vindo esporadicamente a Paranapanema. O câncer não pode ser contido e prosseguiu para o pulmão e cérebro, levando Irmã Guilhermina a óbito em 03 de Fevereiro de 2017, aos 84 anos de idade.